"O tratamento é como atravessar um deserto, mas mais difícil é viver com as drogas"
No dia 24 de janeiro de 2008, o Jornal Nacional, principal noticiário da Globo, informava que um traficante de droga havia sido detido no apartamento de Fábio Assunção e que o ator estava a ser ouvido na esquadra de polícia como testemunha. O Brasil tomou consciência nesse dia da dependência química de um dos seus mais requisitados galãs de telenovelas. No mesmo ano, foi substituído por Murilo Benício em Negócio da China e dois anos depois iniciou as gravações de Insensato Coração mas pediu dispensa por não se sentir em condições de honrar compromissos, perdendo o papel para Gabriel Braga Nunes.
"O maior problema era administrar compromissos, eu não sabia se era terça-feira, quinta-feira ou sábado, quando me agendavam alguma coisa de manhã eu ficava logo com medo de não conseguir estar presente", contou há dois anos o ator, hoje com 44 anos, ao programa Fantástico, da Globo. Três tratamentos depois - o primeiro de 40 dias num hospital no Arizona não resultou, o segundo de dois meses no mesmo lugar melhorou a sua condição mas só o terceiro, de quatro meses numa clínica fechada, lhe devolveu a confiança -, Assunção sente-se seguro. "O tratamento é como atravessar um deserto, é difícil, é solitário, mas mais difícil é viver com as drogas", disse na entrevista.
Para se chegar ao ritmo insano das gravações de uma telenovela na gigante Globo, Assunção deu um passo de cada vez. Em televisão, participou em Tapas & Beijos, uma série semanal de comédia que ficou cinco anos no ar na mesma emissora, encenou duas aclamadas peças de teatro e participou, enquanto ator, em peças de Sam Shepard e Woody Allen.
Até Totalmente Demais, onde protagoniza um bon vivant dono de uma agência de modelos e contracena com Juliana Paes e Marina Ruy Barbosa - além do português Paulo Rocha.
Antes da dependência das drogas ser revelada, Assunção era um dos atores mais queridos do Brasil. "Em 1996, o seu Marcos Mezenga representou a rica e mimada juventude de Ribeirão Preto em O Rei do Gado, em 1997 contracenava de igual para igual com Antonio Fagundes, Susana Vieira e Regina Duarte em Por Amor, em 2001 conquistou novo patamar de respeitabilidade como Carlos da Maia, na saga de Eça de Queiroz Os Maias, adaptada por Maria Adelaide Amaral e antes de se recolher foi indicado a um Emmy Internacional", recorda Cristina Padiglione, do jornal O Estado de S. Paulo.
"Completo 25 anos de carreira e não vou festejar apenas com o regresso às novelas", disse o renascido ator na véspera da estreia de Totalmente Demais. A seguir vem aí a estreia de um filme em que atua ao lado do filho João, de 12 anos, novas encenações e um ousado monólogo teatral em Sexo e Amizade, sob direção de Otávio Müller.